A criação de lugares inspira as pessoas a reimaginar e reinventar coletivamente espaços públicos como o coração de cada comunidade. Mais do que apenas promover melhor design urbano, precisamos projetar soluções criativas de uso, prestando atenção especial ao aspecto físico, cultural e social das identidades que definem e apoiem a evolução contínua do lugar.


Pensando nesses conceitos de partidos e pensamentos de projeto, nossa equipe criativa recebeu o desafio de idealizar uma praça para um condomínio fechado na cidade de Florianópolis, o Vilaporé. Para este projeto de paisagismo, a loteadora disponibilizou uma grande área livre destinada a atividades coletivas de permanência e movimento. Essa decisão foi pensada para trazer qualidade de vida e lazer para os moradores do condomínio.


O programa de necessidades desta praça continha elementos básicos e essenciais que um ambiente de lazer e estadia precisa. Elementos como um playground para as crianças, quadra de areia, bancos, lixeiras e bicicletário. Entretanto, o que deixa esta praça ainda mais interessante e atrativa são outros aspectos essenciais para dar vida a ela, como uma horta comunitária para os moradores e um pomar com diferentes frutos para agregar valor ao espaço.


Calmo, natural, comunitário, familiar, contemplativo e orgânico. Nossa equipe seguiu, além do plano de necessidades, alguns atributos muito importantes para o projeto, proveniente do briefing e conversas com o cliente. A Praça dos Eucaliptos precisava transmitir a sensação de estar em um ambiente cercado por natureza, com elementos naturais presentes em texturas e aromas. Além disso, este projeto iria contribuir com a construção de um senso de comunidade por meio de espaços que promovam interação social e do respeito individual de cada morador.


Outro atributo norteador para idealizar esta praça foi a possibilidade de usos diversos ao espaço, contemplando diferentes faixas etárias e atividades em grupo. E por fim, agregar um ambiente convidativo e que conecte fluxos próximos entre as casas, principalmente a trilha e a área de preservação existente.


O primeiro passo para a parte projetual foi entender o terreno que será criada a praça. Analisamos os fluxos de quem está indo para as moradias próximas do loteamento, como as áreas de preservação permanente com trilha, e até o salão de festas do condomínio. Entender esses caminhos e fluxos auxiliam na hora de projetar as chegadas, idas e vindas de quem irá utilizar a praça.


A trajetória diária do Sol e insolação no terreno é sempre um aspecto muito importante para qualquer projeto de arquitetura e paisagismo, pois saber qual momento e em que parte tem a incidência mais de insolação define muitos partidos. Entender também as diferentes zonas de privacidade da praça foi fundamental para propormos atividades que sejam mais introspectivas e outras mais expostas.


Conectado a esses conceitos de espaços mais expostos e íntimos, estão os tipos de usos que definimos para esta praça. Na zona mais próxima aos caminhos e chegadas do local nós destinamos para as atividades mais recreativas. Já na parte mais adentro da praça, reservamos para momentos contemplativos e suporte para esportes. É essa análise inicial perante os espaços da praça que ajudam a definir os pontos focais de cada atividade que tornará a praça mais viva.


“É através da definição da locação desses espaços que o desenho final surge. Os círculos amarelos são espaços mais lúdicos, para crianças, próximo da rua pra ter mais visibilidade. O azul é para cuidado da horta, mais recuado. Já o vermelho é destinado para prática esportiva, com mais espaço necessário, mais recluso para uma bola não cair pra rua, por exemplo”, conta Lucas Passold, CEO do CO STUDIO, arquiteto e urbanista que liderou esse projeto.


Após isso, pensamos nos caminhos internos da praça: os pisos. Materiais diversos foram analisados, em relação a custos, durabilidade, resistência e estética. No fim, optamos por tipos de pisos que favorecessem cada uma das atividades e experiência durante o uso da praça. O paver liso em áreas de conexão com a rua, pedriscos bege e areia tratada para caminhos e bordas de atividades e a grama esmeralda nos espaços de descanso e contemplação. Criamos também uma pequena trilha envolta da praça, feita com caminho de tronco de árvores.


As forrações e vegetação da praça também foram aspectos muito importantes de decisão projetual, pois são as árvores e plantas que contribuem para um melhor conforto e experiência natural. A grama amendoim e a grama Triális-Galphimia brasiliensis foram as escolhidas para a forração da praça. Já em relação aos plantios de árvores, nossa equipe criativa tomou o partido de trazer pitangueiras, pessegueiros, limoeiros, lichieiras, jabuticabeiras, leiteiros e quaresmeiras, indo de encontro com a necessidades de um diverso pomar.


Para uma praça, os mobiliários são tão importantes quanto qualquer outro aspecto do paisagismo, pois são eles que darão maior conforto e suporte para os utilizadores do espaço. Sendo assim, trouxemos além de bancos e lixeiras - elementos básicos de um bom local de lazer - espreguiçadeiras, poltronas, redário, brinquedos pneu, playground para crianças e bicicletário.


Ainda pensando na parte de recreação, colocamos gangorras dupla, ponte de troncos e brinquedo de estacas. O conceito do projeto recebeu o nome de Eucaliptos por tentar trazer materiais mais naturais para as forrações e principalmente o uso dos mobiliários com troncos de madeira eucaliptos.


Assim, nossa equipe multidisciplinar criou uma praça inerentemente multidimensional. Um espaço genuíno e bem-sucedido que será usado por muitas pessoas diferentes para muitos fins - e em muitas diferentes horas durante o dia e do ano. Afinal, a Praça dos Eucaliptos é muito além de um abrigo para os moradores do condomínio, mas sim um espaço que dá sentido à conexão entre pessoas.